Sem Conclusões
Como você está se sentindo hoje? Calma, não precisa responder. É uma pergunta retórica.
Jazz tocando na caixa. Bitucas abarrotadas no cinzeiro. Um grupo de amigos conversa em um apartamento pequeno no centro da cidade. O único barulho que não pertence ali é do telefone tocando no vizinho. Um dos moços, que usava um casaco com o dobro de seu tamanho, anunciou: “Olhem o que eu trouxe”. Todos acomodam seus copos na superfície mais próxima e se agrupam para matar sua curiosidade. Era uma estrela. Branca, nula. Tão sem vida quanto o próprio espaço. Tão cheia de vida quanto o próprio espaço. Tivessem tomado algumas garrafas de vinho a mais, achariam que era uma falha nos gráficos da vida.
Uma rua iluminada apenas pela lua cheia é o suficiente para um homem aproveitar cada batida de uma música. O vento bate em meu rosto, e o fone em meus órgãos. Observo as luzes acesas nos prédios. Tento adivinhar quais programas estão assistindo ou qual receita estão cozinhando, até que a próxima música começa a mexer meu corpo e eu arrisco alguns passos de dança, sem me importar se daquelas sacadas alguém me vê.
Passamos mais tempo estranhando as adversidades do que enxergando-as. Olha que injustiça. Pessoas que não fazem nada além de viver suas próprias vidas, enquanto outras falam: “Ele, ele, ele”. Estranham o estranho. Riem, tiram sarro. Isso quando não é aprovado, claro. Se os dois lados não tiverem problemas com isso, então não tem problema. Eu, eu, eu acho.
A maioria das vezes que lembro dos nossos momentos, ela está de pé. Os raios de sol batem nas suas costas e atravessam os seus pelos louros, recém-descolorizados. Seus olhos negros me atravessam. Ainda deitado na cama, não saberia dizer se na minha frente era mulher, entidade ou sonho.
Como você está se sentindo hoje? Calma, não precisa responder. É uma pergunta retórica.
Um macarrão instantâneo requer poucas habilidades culinárias. Não é preciso assistir à todas as temporadas de MasterChef (ou MasterChef Júnior) para fazer uma refeição — que a função é segurar a fome enquanto cria coragem de cozinhar uma receita realmente nutritiva. Alguns, contudo, entendem o que o miojo realmente oferece: os preciosos minutos de reflexão que o antecedem. Futuro, traumas e amores são temas recorrentes na cabeça de um jovem nos dois minutos em que prepara o seu miojo.
A noite ideal com o seu amor tem três beijos. O primeiro vem para aquecer os corpos. O segundo chega com a certeza de que os dois estão na mesma temperatura. O último deve ser servido minutos antes de dormir, para descansar e saber que aquele beijo repousa a um palmo de distância. Como o amor não tem regras, outros beijos acabam aparecendo aqui e ali porque, bem, é gostoso demais passar uma noite com o seu amor.
Sou pessimista. Só que na verdade sou otimista. Veja bem, se em minha cabeça todos os resultados serão os piores possíveis, o que vier é lucro. Se eu penso que a qualquer deslize na empresa meu chefe vai perceber que menti em meu currículo, quando conseguir, por exemplo, consertar um micro-ondas, será triunfo, principalmente quando quiser estourar uma pipoca — mesmo sabendo que ela provavelmente vai queimar.
Se eu tenho wi-fi em terra, por que não posso ver o timão jogar ao vivo enquanto viajo? Oras, os raios do wi-fi voam pelos ares, bem onde estou. Eu tenho o direito, veja bem, eu tenho o direito de assistir ao jogo do Corinthians. O quê? Já tem wi-fi nos aviões? Então por que o sinal está ruim? Voa, Curtintia!
Uma volta no Parque Ibirapuera diz muito sobre as pessoas. Com as bundas acomodadas nos gramados frente ao lago, jovens de mãos dadas conversam sobre as coisas boas da vida, falam sobre sonhos e estrelas e agradecem a oportunidade de estar numa das maiores cidades do mundo. Até os cachorros mudam lá dentro. Um pinscher que não late contra qualquer forma de vida incansavelmente. Um são-bernardo babão, sendo cutucado por crianças babonas. Todos rodeados por árvores, que são rodeadas por carros, que são rodeados por prédios, que têm nomes, que pertencem à pessoas.